sábado, 31 de julho de 2021

Opinião: A nostalgia como forma de produto


Quem não gosta de lembrar de games, séries, filmes, desenhos e músicas que marcaram sua infância e adolescência? Tenho certeza que você já lembrou disso tudo aí, não é mesmo? Seja da geração z, Millenium ou cringe, tenho observado como o fator nostalgia aquece e se transforma em produto. Desde o ano passado, pude notar como o famoso comeback tem apostado forte na nostalgia em várias mídias. Conversando com os membros do Confr4ria, vi que isso se faz cada vez mais presente: desde a roupa de um herói a uma regravação de um single, tudo isso faz com que o fã pire nessa vibe retrô que o leva  a seus momentos áureos do famoso "Era feliz e não sabia".

É o RBD que faz uma live especial, Sandy e Júnior, que fazem uma turnê história, do nada, em 2019, Digimon ganhando uma releitura, filmes Disney ganhando personagens de carne e osso e uma nova forma de ser contada e até vilãs que assumem o posto de protagonista de sua própria história. He-Man sendo repaginado para a Netflix, personagens lendários fazendo participação em novas franquias de Power Rangers, Friends fazendo reunião após 17 anos, Gossip Girl ganhando um reboot; os famosos Looney Tunes jogando basquete, agora em 3D, em Space Jam: Um Novo legado, Stranger Things abusando de referências dos anos 80, à á Spibelrg e teorias da conspiração; Mortal Kombat voltando em 2021, Matrix preparando para ganhar um 4º filme, Karatê Kid ganhando uma nova continuação e uma nova história em "Cobra Kai", Big Brother Brasil 21 que apostou em provas e referências com base em edições icônicas; Duna sendo aguardado para estrear em Outubro, Evanescence lançando um cd inédito após anos; Juliana Silveira regravando as músicas icônicas de Floribella, Taylor Swift regravando  TODAS as suas músicas (tudo bem que a maioria das músicas tinha problemas entre a cantora e a gravadora), Avril Lavigne preparando o seu mais novo cd, querendo voltar às origens, como foi em "Let it Go" e tantos outros.










Todos esses exemplos aí em cima provam que a nostalgia está mais viva do que nunca. Talvez nos anos de 2020 e no ano em que estamos, ela se fortaleceu ainda mais. Aí vem o questionamento: será que essa nostalgia é para buscar um novo público ou pescar a "velharia"? O fato é que as duas hipóteses estão corretas. Dissertarei mais sobre elas.

Convenhamos que o mundo precisa de dinheiro e a indústria do entretenimento também não seria diferente. Apostar na nostalgia para atrair um novo público é, sim, uma decisão estratégica, bastante coerente para o mundo dos negócios. Quem não viu os desenhos da Disney clássicos, agora tem a chance de ver em formato live-action. Não pense que a Disney faz isso porque ela é "boazinha", mas, sim, porque é muito mais negócio atrair a galerinha nova de agora e, de bônus, ainda alcançar os pais que cresceram assistindo, o famoso "Matar dois coelhos com uma cajadada só".


Agora falar sobre a famosa "velharia", os fãs de tudo isso que citei em alguns parágrafos acima, de fato gostam quando algo tão marcante para você, ganha uma nova cara. Prova disto é He-Man: Salvando Eternia, Friends: A Reunião e até Sandy e Júnior: Nossa História. Digo isst porque fã gosta de ser mimado e isso aí soa como um frescor para essa velha-guarda. Quem cresceu assistindo e ouvindo isso tudo, sempre desejou um encontro ou uma continuação. Vamos combinar que, algumas vezes, temos direções duvidosas que podem, sem dúvida, estragar o legado de séries conceituadas, mas nada que não possa ser sanado com os bons e velhos "clássicos".





Para isto, é interessante pensar em como a indústria quer te vender aquilo. Eu, como bom fã de Sandy e Júnior, ao ver o seu retorno, fiquei empolgado, e não deu muito tempo e já foi anunciado um box de colecionador com todos os cds, novas camisas e, claro, um cd e um dvd do show. Vou até entrar nos preços em si, para que você veja que não é brincadeira.

 O valor do box "Nossa História: Deluxe", que contempla o cd e o dvd do show, a paleta do Júnior, fotos icônicas da turnê, box em formato triângulo, entradas vips que levavam à passagem de som, cópia do ingresso, tudo isso em um preço nada mais, nada menos que R$ 350 e, detalhe, só compra cd e dvd do último show quem comprar o box; não há opção de comprar separado. Isso tudo contemplado em uma caixa, sem dúvida é uma imersão de nostalgia ao fã, porém, me questiono: precisava ser um valor tão alto? 

O país em uma pandemia e cobrando quase R$ 450 para cd, dvd e papeis impressos de uma gráfica? Será que isso é justo? Sandy e Júnior não ficariam menos ricos, cobrando um valor mais acessível e dando a possibilidade de comprar os produtos separados a quem não tem condição de pagar esse valor. Percebe-se, aqui, como tudo faz com que a nostalgia muitas vezes te deixa refém? Claro que comprar ou não é uma opção de cada um, mas se oferecem esse valor e somente esse valor, é porque existem pessoas que adquirem.

Box Nossa História Deluxe

A nostalgia é um fator que vende e vende muito. Por mais que não aceitamos, ela está aí. No fim das contas, aquilo de alguma forma vai virar negócios; desde a entrada do cinema, camisas, bonecos, um cd, um dvd da série e fora muitas maneiras que o próprio fã decide usar a sua criatividade para transformar seu objeto de estimação em produto. Não é só a indústria que cria algo novo; o fã mais nostálgico também pode criar produtos para saciar seu desejo quase parasítico de relembrar coisas de seu passado, distante ou não. Aquilo de: "se você quer reviver seu passado, terá de pagar o preço por isto". E, convenhamos, isto funciona muito bem, quase como vender um copo d'água para alguém sedento.





A nostalgia, como produto, é um movimento que vem crescendo cada vez mais. Será que precisamos  ter tudo aquilo que somos oferecidos? Será que vamos "morrer" se ficarmos sem determinada coisa? Isso tudo, de alguma forma, é para nos fazer gastar; por isso, você, leitor, use o bom senso: ao invés de querer logo os mimos da nostalgia, que são enormes chamarizes, pense no quanto eles realmente valem para você, e não se deixe levar pelo consumismo, já que este o levará, quase que certamente, a um endividamento.

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