quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Dois Irmãos: Quando o Excesso de Amor é Venenoso

"Dois Irmãos: Quando o Excesso de Amor é Venenoso".... que título e subtítulo para uma matéria no nosso humilde e amado blog.... mas, assistindo a minissérie de Luiz Fernando Carvalho para a Rede Globo inspirada no romance homônimo de Milton Hatoum, esta é exatamente uma frase simples que resume completamente a história de Dois Irmãos. O livro foi lançado em 2000, contem 272 páginas e já foi adaptado para o teatro, para os quadrinhos com os irmãos Gabriel Bá e Fabio Moon (ganhando até o prêmio Eisner de Melhor Adaptação de Outro Meio), e agora em 2016, foi a vez da trama ser adaptada para uma minissérie em 10 capítulos.

Logo da minissérie
A trama gira em torno de um casal de ascendência libanesa, que vive em Manaus na década de 20, e possuem dois gêmeos idênticos com personalidades completamente distintas. O filho mais novo é Omar, um jovem sem compromissos, expansivo, encrenqueiro, boêmio e o famoso "fruta podre". Já Yaqub, o filho mais velho, é calado, centrado, dedicado e muito inteligente. Devido ao filho mais novo ter nascido mais fraco e menor, Zana acabou mimando e desenvolveu uma predileção maior pelo caçula, o que acabou desenvolvendo um ser humano sem responsabilidades, que fazia o que fizesse sempre a mãe passava a mão na sua cabeça e sem limites. Yaqub acabava sendo meio deixado de lado pela mãe e só encontrava um pouco mais de atenção no pai, Halim.

Zana ao lado dos gêmeos. À esquerda da imagem, Yaqub e à direita Omar
A rivalidade entre irmãos vai crescendo veladamente, mas tem sua explosão ainda na infância quando ambos os gêmeos se interessam pela mesma menina. Durante um ataque de ciúmes, Omar corta o rosto do irmão e o deixa com uma cicatriz. Nem assim, Zana repreende o filho. Vendo a situação, Halim pensa em mandar os filhos para o Libano para crescerem com seus parentes e tomarem jeito, mas na hora da viagem, Zana não tem coragem de mandar seu filho caçula e apenas Yaqub segue viagem sozinho. Após, cinco anos, Yaqub volta totalmente mudado para casa e Omar continua mais irresponsável ainda, sem limites e sente-se dono da casa. A rivalidade entre ambos intensifica-se cada vez mais.

O jovem Yaqub interpretado por Matheus Abreu em seu primeiro papel para a TV
Dois Irmãos acompanha a trajetória da família ao longo de décadas, ao mesmo tempo em que acompanha os principais acontecimentos no Brasil (como a criação de Brasília, a ditadura, entre outros) e em Manaus. Conhecemos o casal apaixonado Zana e Halim quando ainda são jovens, praticamente adolescentes, vemos o nascimento dos gêmeos, o desenvolvimento de ambos e a chegada da terceira idade para os pais também é mostrada. Achei bem interessante a escolha de colocar um narrador para descrever não só o rumo de toda a história, mas também os sentimentos e pensamentos dos personagens, algo que é exclusivo dos livros.

Halim e Zana na terceira fase da série
A minissérie é muito boa e a trama prende para vermos como irá acabar uma rivalidade tão intensa como a dos gêmeos. A estética da série é linda e o elenco é formidável, desde a primeira à terceira fase, os atores são ótimos. Juliana Paes e Eliane Giardini (como Zana), Antonio Calloni e Antônio Fagundes (como Halim) e Irandhir Santos (como Nael) estão ótimos em seus papéis. Matheus Abreu e Cauã Reymond então nem se fala. Os dois atores conseguiram realmente fazer gêmeos totalmente opostos em personalidade. Yaqub faz com que nos identifiquemos com ele e faz com que torçamos para que ele consiga frear o ímpeto do irmão, já Omar desperta apenas sensações negativas no grande público (como não odiar aquela peste??!).

Yaqub e Omar, idênticos na aparência, mas completamente diferentes na personalidade
As duas coisas que me incomodaram na série foram apenas que na reta final, mais precisamente na última semana, houve muito choro nos personagens. O tempo todo. Todos eles choravam e sofriam demais. Claro, é um romance no melhor estilo dos clássicos da literatura, como os de Machado de Assis ou Eça de Queirós, mas mesmo assim, havia cenas em que os personagens não precisavam tanto derramar cachoeiras de lágrimas toda hora. O outro problema, para mim, foi engolir que Irandhir Santos poderia interpretar um possível filho de Cauã Reymond. Nada contra Irandhir, longe disso. Eu o acho um grande ator, mas engolir que ele teria idade para ser filho de Cauã e não pai, foi dose....

Nael, interpretado por Irandhir Santos. Ele quem narra toda a trama
Dois Irmãos é uma excelente história. Me fez logo querer ler o livro. Acompanhem como o amor excessivo de uma mãe pode não só destruir uma pessoa, mas também toda a felicidade de uma família e até mesmo, destruir a própria família. Apesar de ter achado o final mais ou menos, a série é muito boa e eu recomendo a todos. Dois Irmãos é um senhor clássico.

Um grande abraço.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Desventuras em Série - 1ª Temporada: Netflix Acerta a Mão mais uma Vez!

Parece que a Netflix está acertando a mão em cheio em seus produtos e vem presenteando aos espectadores com excelentes produções. Desventuras em Série não foge a regra. Contendo 8 episódios adaptando aos 4 primeiros livros da saga criada por Daniel Handler (ou Lemony Snicket, como indica seu pseudônimo), a saga já havia sido adaptada para o cinema em 2004 com Jim Carrey como protagonista, onde adaptaram-se a trama dos 3 primeiros livros. Imagino que muito coisa ficou de fora e a história ficou corrida (afinal de contas são 13 livros no total da saga), porém na série da Netflix houve bastante tempo para trabalhar os livros com mais calma, pois cada 2 episódios adaptam a história de cada livro. Ainda não li aos livros, mas fiquei bastante interessado na saga após assistir a série.

Poster da série
Tudo gira em torno de 3 irmãos que acabaram de ficar órfãos: Violet, de 14 anos (interpretada por Malina Weissman), Klaus, de 12 anos (interpretado por Louis Hynes) e a bebê Sunny Baudelaire (interpretada por Presley Smith). Após perderem os pais num misterioso incêndio, as crianças são forçadas a morar com um parente mais próximo, o Conde Olaf (interpretado pelo talentosíssimo Neil Patrick Harris), mas este só está interessado em botar suas vis mãos na fortuna que as crianças herdaram e que só terão acesso quando Violet completar a maior idade. Com várias situações, investigações e confusões, as crianças acabam pulando nas mãos de tutor para tutor, enquanto Conde Olaf tenta sempre roubar sua fortuna.

Os órfãos, da esquerda para direita: Sunny, Violet e Klaus
Os irmãos são muito inteligentes e cada um é bom numa determinada área. Violet é ótima em inventar coisas e sempre que prende o cabelo com uma fita é porque está se concentrando em novas ideias. Klaus é viciado em leitura e sempre consegue achar respostas nos livros. Sunny usa seus fortes e afiados dentinhos para triturar, literalmente, qualquer coisa. O que lhe falta em vocabulário, ela compensa com simpatia e fofura. O trio funciona muito bem junto.

O divertido e vilanesco, Conde Olaf
A série é leve e extremamente divertida. Vi os 8 episódios em dois dias e os ganchos deixados para a segunda temporada já me deixaram ansioso. A vontade de ler aos livros da série só iam aumentando a cada novo episódio que assistia. Os cenários são muito bonitos e os efeitos especiais muito bem feitos, além da maquiagem ser ótima (Conde Olaf agradece). Nota-se que a Netflix está investindo pesado em suas produções.

Conde Olaf e um dos seus disfarces junto com o Sr. Poe
As crianças são ótimas, assim como todo o elenco. A trupe teatral de Conde Olaf é impagável. O grande destaque da série para mim fica com Neil Patrick Harris e o seu excelente Conde Olaf. Ele interpreta aquele vilão que simpatizamos de cara, ora morrendo de rir com suas trapalhadas, ora sentindo aquela raiva pelas suas maldades. Claro que Conde Olaf mais faz rir do que odiar, com seus disfarces nada espertos e planos fajutos que parecem enganar a todos a sua volta, menos as crianças. Olaf é convencido, tapado, um ator canastrão (mas nunca lhe digam isso) e que está disposto a qualquer coisa para ter a fortuna dos Baudelaires em suas mãos. O Olaf de Neil é tão bom ou até melhor do que o Olaf de Jim Carrey.

Conde Olaf e sua trupe teatral
Outro personagem que pode passar desapercebido pelo público, mas que me agradou profundamente e arrancou diversas risadas minhas foi do Sr. Arthur Poe, brilhantemente interpretado por K. Todd Freeman. Esse merece grande destaque também! O Sr. Poe era o banqueiro responsável por administrar a fortuna dos Bauldelaires e quem deveria achar um tutor correto para as crianças, mas o personagem é muito lerdo, nunca acredita nas armações de Olaf e sempre duvida das crianças. Ele está sempre tossindo muito e sempre está preocupado com sua promoção no banco. Freeman é hilário, especialmente quando fica histérico.

O divertido e atrapalhado Sr. Poe
Temos a participações de muitos atores famosos na série, incluindo Patrick Warburton, Joan Cusack, Will Arnett, Cobie Smulders, Catherine O´Hara, Don Johnson, entre tantos outros. A série parece estar agradando a crítica e ao grande público. Muitas perguntas ficaram em aberto nesta temporada e o mistério em torno dos Baudelaires cresce cada vez mais. Com certeza teremos uma segunda temporada, e novas revelações surgirão. 

Patrick Warburton como Lemony Snicket
Aproveito para enaltecer temporadas curtas com poucos episódios. A série fica redonda, sem enrolações, pois eu não aguento mais assistir temporadas gigantes com 22, 24 episódios de 40 a 50 minutos cada. Cansa e faz enjoar da trama. Acho perfeito temporadas com 8 a 10 episódios no máximo. Que isto vire uma rotina nas séries que estão por vir.

Conde Olaf  e as crianças
Recomendo fortemente Desventuras em Série para todos. Assistam aos planos maquiavélicos e aos disfarces do Conde Olaf, as ideias geniais dos irmãos Baudelaires, as confusões dos tutores, as tosses intermináveis do Sr. Poe e os mistérios que rondam os Baudelaires. Ao contrário do que a música de abertura da série diz a cada episódio e da própria campanha de marketing da Netflix que vem pedindo para as pessoas não assistirem a série se querem algo com final feliz ou com contos doces e felizes (uma forte ironia que desperta curiosidade nas pessoas para assistirem o que tem demais nesta série), eu recomendo que você não deixe de assistir e se divirta com todo o imaginário criado por Lemony Snicket (ou Daniel Handler).


Um grande abraço.