O título que abre este texto pode soar pomposo, mas não é indevido; Jetman trata-se de uma das maiores obras já realizadas no gênero tokusatsu, e um dos melhores sentais que já assisti. O esquadrão alado, até hoje, é um símbolo para muitos de como fazer um Super Sentai: trama e personagens complexos, reviravoltas, rivalidade dentro da própria equipe e entre seus vilões, etc.
Breve história:
Os cientistas da Sky Force, um departamento de defesa, descobrem uma energia chamada Birdonic. Eles procuram uma forma de transplantar tal energia nos humanos. A comandante Aya Odagiri escolhe 5 pessoas para fazerem parte de tal projeto, dentre eles o casal Ryu Tendo e Rie Aoi. Logo depois de Ryu ter recebido a energia Birdonic, a base da Sky Force (numa estação espacial) é atacada pelas forças de Vyram, e Rie é sequestrada. Os padrões de energia restante se espalham aleatoriamente pelo Japão e atingem quatro civis. Aya e Ryu partem na busca das pessoas atingidas. Com alguma relutância inicial dos quatro membros restantes, é formado o Esquadrão Homens-Pássaros Jetman, que luta contra a invasão de Vyram, comandada por Radiguet.
Pois bem, com a premissa de Jetman em mãos, graças à Wikipédia, podemos discorrer o texto sem maiores preocupações. Jetman, sem sombra de dúvidas, foi uma das maiores (até aonde vi, a maior) aposta da Toei em um Super Sentai com teor mais sério e adulto. Não se pode dizer que Jetman seja infantilizado, ou, no máximo, tem alguns pontos onde ocorre um pouco mais de humor juvenil, mas, no todo, Jetman é um sentai fortemente dramático e focado nos problemas que Vyram traz e em como eles afetam cada um dos cinco membros do esquadrão da Sky Force e de sua destemida comandante.
Os Vyram, se não forem os vilões mais perversos já mostrados em um Super Sentai, devem ocupar, no mínimo, a vice-liderança, pois não brincam em serviço: a ambição de Radiguet em conquistar a Terra o torna um inimigo sem a menor compaixão, movido e motivado apenas por seus interesses pessoais. Este mesmo Radiguet foi capaz de matar uma inocente em sua única e fugaz "tentativa" de redenção. Tran, posteriormente substituído pelo Imperador Tranza, não fica tão atrás no quesito maldade. Por ser visto como inferior pelos demais por ser apenas uma criança, modifica sem corpo até chegar à idade adulta e subjuga todos os seus comparsas de maneira quase irreversível.
Grey é um dos vilões mais autênticos que já pude ver num tokusatsu, falando de maneira geral. Para os dias de hoje, o que acho uma tremenda bobagem, seria considerado "politicamente incorreto", pois bebia e fumava constantemente na série. Uma das coisas que mais admiro em Grey é a sua personalidade serena e seu Código de Ética, já que é um vilão honrado, que não costuma agir traiçoeiramente, diferentemente de Radiguet ou mesmo Tranza e Maria (esta em bem menor escala). Grey, além de agir dentro de certos códigos morais, me fazia pensar se ele era mesmo um vilão; numa outra circunstância, talvez se tratasse dum anti-herói.
Conforme Jetman se desenvolve, Black Condor e ele criam intensa rivalidade, mas uma rivalidade calcada no respeito mútuo e até em certa admiração. Eu só vi rivalidade semelhante (acredito ser superior) em Capitão Marvelous e Basco, em Gokaiger. Gostaria demais de ver mais vilões como Grey nas séries mais recentes, pois sempre admirei vilões que, apesar de suas intenções vis, tivessem alguma ética, agissem dentro de um certo código, não importando seu objetivo.
O esquadrão:
São cinco personalidades bastante conflitantes, e Ryu e Aya levam um bom tempo para convencerem seus parceiros de que o Jetman é necessário para preservar a vida na Terra, e que eles teriam de se tornar heróis, deixando seu egoísmo e ambições pessoais de lado.
Ryu Tendo: é um bom comandante, o tipo certinho, que apenas bebe leite ao invés de bebidas alcoólicas. Ele e Gai travam excelentes duelos durante os 51 episódios, pois Gai não aceita bem a ideia de ser um herói e Ryu acredita fortemente que todos devem se comprometer.
Gai Yuki: o "bad boy" da série, sempre no bar, bebendo, cercado de mulheres. A personalidade de Gai contrasta fortemente com a de Ryu, criando atritos constantes. O mais interessante nele é que, apesar de possuir forte senso de justiça, não gosta nem um pouco do papel de herói. Gai, porém, se dá conta de que é fundamental na equipe e que ela só poderá alcançar a vitória com sua ajuda. Gostando ele ou não, Ryu e ele são dois pilares de sustentação da equipe.
Ako Hayasaka: a gananciosa Ako não queria nada com a Sky Force se não fosse paga para isto. Seu objetivo era enriquecer, casar-se com um homem de posses. Além disto, a estudante gostava de correr. Com o tempo e com as situações que tem de enfrentar, Ako entende que não existe mais espaço para uma colegial comum, mas para uma heroína.
Raita Oishi: provavelmente o menos talhado para ser um herói, nosso gordinho atrapalhado é um amante da natureza e tem como hobby plantar vegetais. Apesar da aparência, é um bom guerreiro, e um dos mais ternos da equipe. Sempre se preocupa com os demais.
Kaori Rokumeikan: a aristocrata do time. Kaori sofre uma transformação bem interessante, quando passa a ficar dividida entre Ryu e Gai: da típica mocinha de família rica, cheia de frescuras e dificuldades, numa guerreira forte e decidida. Kaori, Ryu e Gai formam um triângulo amoroso bem explorado. Aliás, ela percebe que existe muito mais na vida do que viver numa mansão luxuosa, existe todo um mundo digno de ser defendido.
Aya Odagiri: a capitã da Sky Force e, consequentemente, dos Jetman, comanda-os com mãos de ferro. Ela e Ryu traçam os rumos do esquadrão enquanto ele se desenvolve, sendo Aya sempre uma forte incentivadora da equipe e em como seus integrantes devem se comportar. Uma mulher forte, sem a menor sombra de dúvidas. Imagino-a sendo um sexto membro da equipe. Certeza que seria uma das melhores já vistas.
Jetman tem algo que me agrada bastante: realismo. Até as mechas deles se quebram constantemente, forçando-os a consertarem-nas ou procurar por alguma evolução para manter o combate com os monstros de Vyram ao menos sob controle. Jet Icarus é o robô básico, e ele sofre inúmeras avarias durante as batalhas, trazendo o surgimento de Tetra Boy, Jet Garuda e outras formações. Este mesmo realismo faz com que Jetman coloque seus componentes em situações difíceis, onde o medo parece querer superar a coragem ou visualizar a vitória torne-se muito mais difícil do que pareça. O próprio Vyram sofre com algumas dúvidas.
Eu não adentrarei mais a trama para não dar spoilers sobre os acontecimentos, mas digo e repito uma coisa: Jetman, nos dias de hoje, seria uma obra de imenso sucesso ou fracasso retumbante, porque o público dos sentais atuais não parece estar preparado para uma temporada com forte carga dramática, rivalidade, complexidade de personagens e enredo. Espero estar enganado quanto à isto, mas...
Choujin Sentai Jetman não foi mais um Super Sentai, foi um dos grandes tokusatsus já produzidos, com seus erros e acertos. A coragem da Toei em apostar numa trama tão sóbria e adulta é de encher os olhos dos fãs, e espero que Jetman seja definitivamente marcado na história como um dos melhores tokusatsus já lançados.
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