sábado, 18 de julho de 2015

Kamen Rider Hibiki: um não-rider.

Ibuki, Hibiki e Todoroki, os riders principais.

Bem, acabei Kamen Rider Hibiki neste exato instante, e devo confessar: antes de ver a série, li bastante a seu respeito; os problemas com os roteiristas, a insatisfação do ator protagonista com as mudanças, a insatisfação das pessoas com as coisas que Hibiki não possui. Antes de assistir, eu era uma das pessoas que potencialmente torceriam o nariz para este Kamen Rider Não-Kamen Rider.

Porém, desde o primeiro episódio até seu final, Hibiki prendeu totalmente minha atenção. Ressalto que não se trata de uma série rider clássica, não há cintos, nem rider punch ou rider kick, há apenas heróis devotando suas vidas à caçar os Makamous, espécies de demônios que aparecem com o tempo, e se alimentam de pessoas, literalmente.

Antes de eu me aprofundar em Hibiki, eis a sinopse:

Durante uma viagem para participar de uma cerimônia familiar, o adolescente Adachi Asumu encontra um homem estranho, que se identifica apenas como Hibiki. Diante da aparição de demônios na ilha, conhecidos como Makamou, Asumu vê Hibiki se transformar num guerreiro com aparência similar a um Oni, espécie de ogro da mitologia japonesa. A partir daí, Asumu começa uma relação gradual de mestre-pupilo com Hibiki, aprendendo a lidar com suas inseguranças e turbulências típicas da sua vida de adolescente. Ao longo da série, surgem outros Onis que, assim como Hibiki, pertencem a uma organização chamada Takeshi, cujo objetivo é eliminar os Makamou. Estes somente podem ser destruídos com o uso do "som puro", o que leva as armas dos Onis serem semelhantes a instrumentos musicais.

Pois bem, com a premissa em mãos, posso chegar onde quero: Hibiki não se trata de um Kamen Rider, não ao menos no seu sentido mais clássico. Em toda a série, a palavra Henshin jamais é usada em combate, nem os golpes clássicos da franquia. O único elo que Hibiki tem com um rider é possuir uma moto e se transformar para lutar, nada além disso.

Kasumi e Hinaka, duas das meninas da série. A atriz que fez Hinaka já é falecida, infelizmente.

Para muitos, isto seria motivo suficiente para pular Hibiki, mas este foi um dos motivos de eu me apaixonar pela série: a falta dos clichês clássicos. Hibiki é uma série que deve ser vista fora do prisma rider, e sim como um Metal Hero ou Henshin Hero. A trama é fácil de acompanhar, sem grandes reviravoltas ou grandes surpresas, mas isto não a tornou fraca ou cansativa; Hibiki é gostoso de assistir, passa rápido. Devo ter levado 20 dias para terminar ou menos. O visual dos riders é exótico e muito bonito, bem elaborado. A luz dá um efeito bacana quando reflete neles. Agora, o que mais me agradou em Hibiki foi a vida das personagens enquanto civis, e não como transformados. 

Hibiki é uma série onde os personagens começam praticamente todos juntos, sem a "surpresa" dos riders secundários e terciários, etc. Suas vidas são interligadas por pessoas em comum, a Organização Takeshi e o Restaurante Tachibana, onde sempre se reúnem e onde boa parte dos episódios se desenrola. Aliás, Hibiki é um dos riders com as histórias melhor desenvolvidas pelos episódios, fator comum dele e Kiva; há pouca luta, cerca de 2 minutos por episódios, e o restante do tempo é desenvolvimento da trama, dos personagens. Uma das coisas que mais gostei em Hibiki foi a farta presença de mulheres, e o bom peso delas na trama: não são apenas rostos bonitos, são participativas. Conselheiras, amigas, armeiras, ajudantes, interesses amorosos, mães e companheiras, mestras, inimigas, monstros. Ok, muitos podem considerar que isto é um clichê, mas as mulheres da série tem grande importância. Há uma rider, inclusive. Todos os riders da série têm discípulos, menos Hibiki.

Asumu e Hibiki, na abertura original da série.

Outro ponto: a presença de adolescentes; 4, ao todo. Asumu, o principal, vê em Hibiki um símbolo, um modelo à seguir, uma inspiração. Os dois têm uma relação quase de pai e filho, muito além de uma relação de professor e aluno. Asumu amadurece bastante enquanto participa da vida de Hibiki, e Hibiki também se transforma ao acompanhá-lo. Um aprende com o outro. Asumu é um adolescente cheio de dúvidas e inseguranças, que sonha ingressar numa banda de metais e acaba falhando, mas Hibiki o faz enxergar que há vários outros objetivos na vida e que ele encontrará seu caminho se treinar sua mente, corpo e espírito.

Hitomi e Asumu.

Hitomi Mochida, a melhor amiga e interesse amoroso de Asumu. Hitomi (ou Mochida, como é mais chamada), é uma menina muito dedicada aos estudos e está sempre com Asumu. Ela gosta dele, mas não se declara. A maior importância dela é ajudar Asumu a se decidir sobre seu futuro estudantil e fazer a ligação dele com Akira, além de ambientá-la na escola. Hitomi também desenvolve uma admiração por Hibiki e aparece no Tachibana com frequência, mas bem menos que Asumu.

Akira Amami ou Amami-san.

Akira Amami, a discípula de Ibuki. Não é revelado muito sobre seu passado, a não ser o fato de seus pais terem sido assassinados por um Makamou e ela querer se tornar uma Oni para vingar-se. De início, ela e Asumu não se dão, pois Akira é dura e não quer saber de fazer amigos. Com o tempo, e indo para a escola, ela compreende que Asumu é uma boa pessoa e se tornam amigos. Seu ódio pelos Makamous quase a destruiu.

Kiriya não sabia fazer algo a não ser ser arrogante.

E, por último, um dos seres mais pedantes e prepotentes que já vi num tokusatsu: Kyousuke Kiriya. Um garoto que chega na escola onde Asumu e as garotas estudam e só sabe ser arrogante, presunçoso e menosprezar seus colegas de escola. Ele acaba conhecendo Hibiki e passa a querer ser seu discípulo, mas lhe falta humildade. Eu não sei como Asumu conseguia se conter, porque era menosprezado e humilhado por ele constantemente. Um ser que eu desprezo até com orgulho. Pode ser comparado ao Houjo de Kamen Rider Agito.

Os riders da série. Alguns só fazem figuração, sequer têm forma humana.

Falando no protagonista, Hibiki é um homem simples, com poucas ambições e que treina muito para evoluir. Ele é carismático, engraçado e sério quando precisa, além de ser um símbolo para os demais; todos procuram Hibiki para conselhos, inspiração, motivação, boas conversas ou quando precisam enfrentar seus próprios demônios internos.

Hibiki, Todoroki e Ibuki sem máscaras. Era comum na série.

Ibuki é um personagem mais simples, o mestre de Akira. Ele é justo, centrado e relativamente forte, mas, apesar de ser filho do líder do Takeshi, não é tão decisivo na trama. Gosta de Kasumi, mas ela não "corresponde".

Todoroki é o rider mais engraçado da série. Cheio de inseguranças e com medo de deixar de ser discípulo e passar a lutar sozinho, ele é quem mais se transforma e passa por dificuldades. Seu mestre, o Kamen Rider Zanki, é seu ídolo.

Douji e Hime. Eles apareciam sempre e de formas diferentes.

Bom, todos devem saber das mudanças de roteiristas após o episódio 30 e das mudanças que a série sofreu. Eu esperava uma queda na qualidade da trama, mas isto não ocorreu. Alguns personagens secundários, leia-se onis, foram excluídos sem explicação, mas não interferiu no andamento. Outro ponto negativo é que não há explicação para o surgimento dos inimigos da série, Douji e Hime. Eles aparecem praticamente em todos os episódios invocando os makamous, mas não há explicação de como foram criados e seus propósitos. Eu concluí que eles existiam simplesmente pela maldade de alguém e pelo prazer de matar pessoas. Todos os riders tinham pleno conhecimento deles, e os inimigos eram mortos com facilidade, até a segunda metade da série.  Aliás, morre um número considerável de pessoas em Hibiki. Ao menos uma por episódio. Algumas mortes são bem violentas e nojentas.

Os makamous, em geral, são aranhas, peixes voadores, gatos, todos com origem folclórica. Acabam repetitivos, salvo um ou outro. O final... Bem, o final... Vejam por vocês mesmos, melhor.

Porém, quero concluir meu texto com o seguinte: o que menos me importou em Hibiki foi a parte das batalhas. Hibiki é muito mais interessante pelos personagens em suas formas civis do que transformados. Emoção constante, muitas lições de vida, amadurecimento e aprendizado marcaram mais. Cada personagem depositava no outro muitas esperanças, sonhos e desejos, e cada um deles tinha de dar o seu máximo para evoluir, tanto como lutador quanto como pessoa.

Hibiki é cheio de situações conflituosas entre os personagens, especialmente os adolescentes. Asumu teve de aprender a viver sem um pai, mesmo sabendo que ele está vivo e tem outra família. Tem de aprender a ser um homem digno de respeito e admiração, além de encontrar seu caminho na vida, como Oni ou não. Akira precisava descobrir como lidar com seu ódio e se o caminho que vinha trilhando era o certo para ela ou não. Hitomi tinha uma vida mais simples, mas era conforto e alegria de seus amigos sempre que eles precisavam. Akira, Hitomi e Asumu acabam ficando muito unidos e amigos, o que os ajuda em muitas situações cotidianas.

O próprio Kiriya, apesar de toda sua arrogância, também era sofredor; não conseguia se equiparar aos demais e era zombado, sentia inveja de Asumu. Ele não conseguia entender que a vida não se deve levar com base na ilusão da superioridade, pois todos temos fraquezas, debilidades.

Hibiki, embora o centro da trama, também aprendeu muito; precisava treinar constantemente para evoluir, contava apenas com suas baquetas e com o que aprendeu, mas era inspirador para os demais, essencial. Asumu acabou tornando sua vida bem mais rica.

Ibuki precisava aprender o valor de sua própria força e a ser um homem mais aberto. Precisava enxergar as necessidades de Akira e ser quem Kasumi precisaria dele.

Todoroki precisava aprender a ser um Oni por si só, superar o medo de agir sozinho e ser o homem que pode ser, que todos acreditavam que ele poderia.

Fecho o texto dizendo que Hibiki, mesmo com os problemas de execução e planejamento, foi uma série apaixonante, e que me emocionou em muitos momentos. A trama simples, mas com personagens que você consegue se pôr no lugar, me deixou com lágrimas nos olhos em vários, vários momentos. Apesar dos pesares, Hibiki é uma série excelente, só não é um rider

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