Afirmo, sem medo de errar, que esta foi a melhor temporada de todas: violenta, tensa, dramática, ácida, sarcástica como nunca se viu. De fato, o roteiro veio bastante afiado; o suficiente para poder nos cortar na pele, a cada cena, inclusive do famigerado "Herogasm". O capricho em cada fala, cada personagem, cada acontecimento, elevou The Boys a um patamar que será difícil por outra série de ficção científica (ao menos envolvida com heróis) alcançar. Cenas antológicas de ação, drama, comédia, tudo muito bem amarrado por um roteiro coeso, conciso e por atuações brilhantes, especialmente as de Antony, Karl e Erin Moriarty, a Starlight.
Sem desmerecer os demais, estes três dividiram os holofotes, especialmente Starr. Nosso querido Homelander (não consigo me acostumar com "Capitão Pátria") teve, sob minha ótica, a melhor atuação de sua carreira, flutuando da maldade, passando por humor, sofrimento, angústia, ódio, megalomania, com total naturalidade. Finalmente conseguimos ver que Homelander tem diversas camadas psicológicas a ser exploradas, e que, como todo ser, tem momentos de fraqueza. A palavra que melhor define a atuação de Antony Starr é brilhante, e, se na temporada anterior, ele e Aya Cash (Stormfront) foram premiados por suas atuações, acredito que a estante de Antony vá ficar um pouco mais cheia.
Mas, como nem tudo são flores, vou explicar o motivo de achar que o final foi aquém. The Boys teve apenas 8 episódios, e os 7 primeiros (como o número 7 diz, o número da perfeição) foram impecáveis. Mesmo Herogasm, que era uma grande preocupação minha, já que não queria que uma série com uma narrativa tão interessante caísse na banalização sexual que muitas outras recorrem, superou minhas expectativas, pois a produção tomou o cuidado de mostrar que houve uma orgia, com direito à cenas mais picantes, mas manteve o roteiro afiado, a narrativa dramática consistente e conflituosa entre as equipes e o que seria do futuro.
Quando saiu o episódio final, parece que os roteiristas quiseram agradar Gregos e Troianos, e conseguiram, mas fazendo escolhas muito questionáveis. Construíram uma narrativa tensa e poderosa, para, no momento derradeiro, fazerem escolhas simples e óbvias, buscando atalhos para resolver todo o atrito criado. Simplicidade costuma ser uma coisa boa, mas quando se constrói uma atmosfera tensa e densa, ir por escolhas óbvias para simplesmente agradar, não é uma boa ideia.
Colocando de maneira simples, praticamente fizeram um "reset" em tudo o que foi abordado, e, de maneira tosca e incoerente, modificaram determinados personagens sem uma razão específica, um real motivo. A terceira temporada despontava para um final épico, mas nos foi dado um "final arroz com feijão", sem grandes surpresas e com pontos decepcionantemente desenvolvidos. Não foi um final de todo ruim, mas mediano. Muito do que foi construído durante os 7 episódios iniciais culminou em nada, como se sequer tivesse acontecido. Como eu disse, no início do parágrafo, um perfeito reset. Muitos podem gostar da ideia de tudo voltar ao seu início, mas, para mim, e boa parte dos que assistiram, ficou o gosto amargo de "andamos tanto para chegarmos ao mesmo lugar".
Foi um final aquém do que poderia, para uma série que está bastante além do simples e óbvio. Agora, resta aguardar a quarta temporada, já que, mesmo com os erros cometidos no episódio final, ficou cheia de ganchos interessantes para pegar.