quarta-feira, 4 de março de 2015

Choujuu Sentai Liveman, um sentai quase perfeito.


A frase com a qual começo este post pode parecer pomposa, mas é a que mais cabe em Liveman. Um sentai extremamente inteligente em sua estrutura e um dos melhores que a Toei produziu, Liveman deu um show no quesito trama e em inovação. Quem imaginaria um sentai onde os vilões seriam colocados no plano principal e os heróis seriam secundários? Em sã consciência e levando-se em questão a tradição dos sentais, ninguém.

Numa academia de estudantes, três deles, Yusuke, Jou e Megumi desenvolvem um traje chamado Liveman e o testam em dois amigos. Porém, outros três alunos da academia resolvem se aliar a um império de gênios do mal, e estes os fazem matar os dois irmãos com os trajes. No dia da formatura, os gênios do Império Volt aparecem e destroem toda a academia. Os três estudantes que desenvolveram os trajes Liveman os pegam e passam a usá-los para defender o planeta de Volt. Com o passar da série, Volt fica mais forte, trazendo graves problemas aos Liveman. É então que os irmãos caçulas dos dois estudantes mortos no início da série retornam para vingá-los, e completam o esquadrão das super feras.
Fonte: Wikipédia.
Liveman tem uma das premissas mais poderosas que já vi num sentai. Em geral, os inimigos podem até ser interessantes, inteligentes e até mais carismáticos que os heróis, mas é muito raro algum ter um papel de real destaque nas tramas. Digo, grande parte dos vilões tem grande destaque, mas daí a ser o protagonista, mesmo sendo o antagonista da história? Isto nunca aconteceu. São 49 episódios, mas serei franco: os 30 primeiros são muito bons, prendem a atenção do telespectador, mas os 19 últimos é que são cruciais. Os pupilos de Bias são gênios em essência, daí tudo o que eles criam para se tornarem o maior gênio da Volt e caírem nas graças do Sr. Bias dá muito trabalho aos heróis e costumam ser bem engenhosos em seus planos e monstros cerebrais.

Gash, Obler, Bias, Kemp e Mazenda.

Agora, falemos dos vilões:

Professor Bias: criador do Império Volt e seu líder, Bias recrutou os alunos para dominar a Terra através da ciência e provar que a ciência do Império Volt é superior à ciência dos humanos. Calculista, manipulador, eloquente e altamente motivador, seus alunos o têm quase como um deus entre os homens. Contudo, não sabem o quão traiçoeiro ele é.

Doutor Kemp: é o mais inteligente dos pupilos de Bias, mas sua mania de grandeza mais o atrapalha que ajuda. Interpretado pelo mesmo ator que fez Wandar em Flashman, dá trabalho para o Liveman, mas prometeu demais e fez de menos, na minha opinião. Constrói monstros cerebrais interessantes e altera seu corpo drasticamente para se fortalecer.

Doutora Mazenda: a segunda mais inteligente. Suas motivações são muito baseadas na vaidade feminina, e ela nutre um ódio enorme pelo Red Falcon. Seus planos costumam ser bem elaborados e ela rivaliza igualmente com Kemp pela atenção e respeito de Bias. Mazenda é boa no combate de longa distância por causa das armas que implantou em seu corpo e é mais sensata que Kemp em seus objetivos.

Doutor Obler: obcecado por tirar a humanidade de si, transforma seu corpo em algo que considera mais belo que a aparência humana. Obler despreza a humanidade profundamente e acaba sendo consumido por seu ódio quase ao ponto de enlouquecer. 

Doutor Ashura: começa como um criminoso ignorante, que sequer sabe ler, e se transforma em um gênio graças a Bias. Tem uma técnica que cria ciborgues saídos de seu corpo e os controla mentalmente. É o homem mais de ação do grupo, sem tanto planejamento e entrega aos estudos, diferentemente de Kemp, Mazenda e Obler.

Guildos: um extraterrestre que chega à Terra e se junta à Volt. Tem boa inteligência e quase elimina um dos heróis, mas não agrega tanto.

Bucchy: o elemento cômico da série, apenas. Não faz nada realmente grandioso nem ameaçador.

Gash: robô criado por Bias para ressuscitar os monstros cerebrais e realizar trabalhos diversos.

Guildos, Bucchy, Gash, Bias, Kemp, Mazenda e Ashura: Volt completa.

Agora, falemos dos heróis. Liveman tem como premissa os vilões serem protagonistas (como falei no início do texto), então o desenvolvimento dos heróis foi limitado, por assim dizer. Isto não fez que fossem personagens fracos ou rasos, que fique claro.

Jou, Yusuke, Colon (a ajudante robô) e Megumi.
Yusuke Amamiya, Red Falcon: um red dos bons! Sério, taticamente eficiente e firme no comando da equipe, mesmo sem precisar mandar, Yusuke e Kemp dividem muitas coisas do passado. Red Falcon é um red muito seguro e confiante em seu time e em si, mas não é autoritário, tampouco negligente.

Jou Ouhara, Yellow Lion: mais sociável que Yusuke, faz relativo sucesso com as mulheres. Poderia ter ido pro lado cômico, mas se mostra um personagem tão forte quanto o Red Falcon, mas com toques mais humanitários. Jou e Obler eram grandes amigos e ele deseja salvá-lo de Bias. Bastante corajoso, destemido e sabe o que falar. Poderia liderar a equipe tranquilamente.

Megumi Misaki, Blue Dolphin: a mais sensível dos cinco e a que mais toma a palavra para falar sobre as consequências dos acontecimentos. Diferentemente de muitas garotas de sentai, Megumi não é boba, infantil ou dependente dos demais. É tão ou mais articulada que Yusuke e Jou, além de ter uma visão muito analítica dos adversários e planos do Império Volt. Megumi fala o que os outros não conseguem e é a personagem que mais mostrou emoção e evolução do grupo. Minha personagem favorita.

Tetsuya Yano, Black Bison: talvez eu seja o único, mas gosto dele. Tetsuya é movido pelo ódio à Volt por causa do assassinato de seu irmão por Kemp, e isto o faz ser muito impulsivo em várias ocasiões. Ele acrescenta pouco aos demais, já que, em vários episódios, sequer tem falas. Um bom coadjuvante, mas não esperem muito dele.

Junichi Aikawa, Green Sai: entra para o Liveman para vingar a morte de sua irmã. Um pouco menos impulsivo que Tetsuya, Junichi protagoniza vários dos meus episódios favoritos da série. Aparece mais que Black Bison, mas também fica atrás do trio principal. Se destaca mais, pois é um personagem mais interessante e poderia aparecer mais, mas o roteiro também não o deu muito destaque. Bom extra.

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Liveman é um sentai extremamente inteligente e ousado, buscou quebrar vários paradigmas clássicos e mostrar personagens fortes e uma trama densa, com um conteúdo bastante adulto. Se fosse hoje, Liveman não funcionaria; o público mudou, as crianças atuais não aceitariam bem a falta de humor da série e todo seu aspecto técnico e sério. Colocar os vilões em primeiro plano e os heróis como secundários tornou Liveman um sentai único, cheio de perspectivas interessantes e com aquela expectativa sobre como os vilões fariam para derrotar os heróis, qual deles seria o mais inteligente e o que Bias tinha escondido sob sua capa preta. Liveman usou e abusou da criatividade, sem grandes falhas ou furos. O trio principal é todo excelente, em especial a Blue Dolphin, que coloco como uma das melhores heroínas de sentai. Sua sensibilidade e simplicidade me encantaram. Yusuke e Jou ficam pouco atrás, bem pouco. Green Sai e Black Bison também me agradam bastante, mesmo sendo pouco explorados. Colon, embora apenas uma ajudante, tem boa participação na série, sempre inventando meios de os heróis superarem seus limites.

Porém, preciso apontar o que não gostei tanto da série: Liveman é focado demais no trio principal dos heróis e muito pouco nos extras. Isto acaba despertando ódios pelo Black Bison e Green Sai, além de empobrecer personagens que poderiam acrescentar bastante à trama e ao próprio time de heróis. Entendo a decisão dos roteiristas, mas poderia ficar melhor se houvesse um pouco mais de destaque dos membros extras e uma interação maior entre eles. Uma observação pessoal, apenas. Faltou um pouco mais de evolução do quinteto. Poderiam avançar um pouco mais em armamento e nas vidas pessoais, mas nada que atrapalhe. Seria apenas um acréscimo aqui ou ali.

Live Robô, a mecha principal de Liveman.

Também não gosto das lutas do Live robô. Ele aparece muito pouco tempo na tela e é apenas a arma final do time, igualmente ao Change Robô. Acho que ele poderia ter estrelado alguns episódios ou ter sofrido alguma grave avaria, mas ele apenas entra em cena para derrotar a versão gigante dos monstros cerebrais, que perdem totalmente a racionalidade, também como Changeman. Um outro pequeno detalhe foi o fato de, em alguns episódios, os personagens terem sacado os planos dos alunos de Bias sem provas ou indícios concretos para isto. Soou artificial e forçando deduções. Foi pouca coisa, mas poderiam ter evitado. Um pouco mais de explicação soaria natural, parte da reflexão de cada caso mostrado nos episódios, mas foram poucos episódios assim. A parte técnica também tem alguns pecados, mas isto é esperado para um sentai de 1988. Nada que comprometa os episódios, porém. Os extras ficarem sem falas também foi um ponto negativo. Figuram uns 4 ou 5 episódios, sendo 2 seguidos.

Em suma, Liveman chegou bem perto de ser perfeito, pois soube explorar aspectos incomuns até hoje e apostar em uma trama envolvente, direta e que não desvia de seu caminho inicial, mesmo com as surpresas e reviravoltas esperadas. Liveman é um dos melhores sentais já feitos, sem dúvidas.

Um comentário:

  1. Discordo que os vilões são os principais da trama. Que belela. Um absurdo!

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